O dia de amanhã

Portal R7/DF
Por que não sabemos o que acontecerá amanhã. Sabemos, ou melhor, intuímos coisas boas e cotidianas. Queremos a continuidade da rotina. Família salva, emprego vitalício, harmonia. Não imaginamos choro nem tão pouco tristeza. Afinal, é de nossa natureza o desejo de felicidade. Mas as coisas não são assim. Saber, saber, sabemos nada. De repente, a vida de uma pessoa muda em um segundo. O que era conforto vira instabilidade; o trabalho, ócio.  O amor, ódio. Dois viram um. E com as montanhas de sentimentos e vivências vamos adquirindo experiência para tornar-nos alguém inteiro e profundo, um pouco mais entendedor das coisas da vida. Pelo menos era pra ser assim. O fato é que todo esse processo de viver doi. E doi porque sabemos que estamos sujeitos a passar por tudo. Ainda mais quando se vive ao pé da letra, amando e sentindo, além do corpo as dores do nosso submundo. 

A reflexão e turbilhão de pensamentos me assolaram diante da morte do atleta David Conrado Meira, nessa madrugada, tão cheio de vida antes do acidente. A cobertura jornalística nos faz entrar de tal modo nas histórias que por vezes passamos a sentir - numa proporção bem menor, é claro - o que os envolvidos estão passando. Não é a perda de apenas um jogador de basquete. É a ausência de um filho. É o vazio de vida de um jovem que estava na flor da idade e tinha tudo para ser um adulto maravilhoso. É a ida de alguém que nada fez para perder as batidas de seu coração. A vida que se esvaiu de graça. Foi embora no momento mais inoportuno e  imaginável. No local onde David praticava seu esporte preferido, onde havia (ou se esperava ter) segurança. E a dor da família deve ser tamanha que não há como mensurar. 

Pairam questionamentos. Sobram dúvidas e indignação. Explode em raiva e vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Fica o gosto amargo de estar acorrentado diante da partida de alguém que horas antes estava no seio familiar, bem e feliz, talvez. Isso tudo porque nada o vai trazer de volta. Nada vai o fazer levantar novamente aqui nesse plano. E qual é a explicação para a morte prematura de alguns, a ida repentina de outros, a demora de outrem? Qual é a ordem seguida? E deveria ter ordem? 

Para acalmar e abrandar o coração nessas horas eu só vejo um caminho. Descansar no senso comum de que deveria ser assim. David estava em seu momento de partir, quer queiramos ou não. E se foi pois sua missão estava completa. E sabe, e acalmar o coração só no tempo certo, após sentir a revolta e o sofrimento oriundo do apego humano. E só depois que a nuvem se dissipar, entender a existência de algo mais forte que nós mesmos dirigindo e cuidando das coisas que podemos suportar.

Só o amor é capaz de superar a dor e o medo da morte. Só o amor é capaz de curar as feridas da saudade por meio da certeza de que a pessoa amada vive, em outro lugar, mas vive. Ir arrumando os curativos em cada buraco do coração por meio da crença de que as coisas não findam aqui. Aliás, nem findam. Vão e voltam no tempo certo. Tudo é passagem. Tudo é transição. Tudo é aprendizado.  Por isso, David está bem, ou ficará bem. Ele e todos os que foram sem despedir. 

Meus sentimentos e solidariedade com a família Conrado Meira.

Comentários

  1. Nathy, linda homenagem.
    Meus sinceros sentimentos à família do David.

    Naiane Carvalho

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