Cactos e Orquídeas

- Infelizmente você é chata, Nathália.

- O quê, mãe?

- É, minha filha. Você é chata. Para de ser chatona. - e desanda a rir.

Sim, tudo é motivo de piada para dona Juliana, minha mãe. Um dia desses, dentro do elevador, uma pessoa mal educada soltou um pum e logo em seguida desceu deixando aquele cheiro 'delicioso' dentro da cabine.

- Eco, pelo amor de Deus! A pessoa peida atrás da gente e vai embora?

- Não, Nathália. Ele peidou na frente mesmo. - e começa a dançar uma dança doida fazendo careta. 

Daí, esqueço o cheiro porque só consigo rir.

Outra vez, quando morávamos em casa, ela estava varrendo a calçada. O sol se punha e minha prima chegou com o namorado dela. A música que tocava dentro do carro era o funk "cada um no seu quadrado". Minha mãe pegou a vassoura e começou a dançar no meio da rua. Dessa vez filmamos. E ela nem ligou. Outros hits fazem parte do seu repertório, como "tchanananana", "que isso novinha, que isso!", e todas outras que têm ritmo para mexer o esqueleto. 

Mas não fica só na dança. Talvez o seu humor ácido se explicite quando o assunto é satirizar as características dos filhos. 

- NÃÃÃÃÃO, minha filha! Não abra a geladeira. Não coma, por favor. Pra quê isso. Vai dormir! Você tá gorda. Olha seu bucho.

Enquanto a minhã mão se aproxima da porta, ela já está se jogando sobre mim, me impedindo de comer qualquer coisa. Pra não falar das vezes que cheguei em casa com fome pensando na feijoada maravilhosa que ela fez no almoço e, na hora de satisfazer o desejo, descubro que ela e meu irmão comeram tudo só para eu não jantar e não engordar, por consequência.

- Nathália, por favor! Não sabia que você tinha virado artista do Cirque du Soleil. - morre de rir.

Ela fala da base, do pó e do batom que escolhi para trabalhar.

- João, só garfo de churrasco para pentear esse cabelo.

João está em frente ao espelho arrumando o black power e tenta dar um jeito com o pente normal.

- Mãe, tô pensando em comprar um carro. Um Ka, talvez...

- Desculpa, Nathália. Mas um Ka não te cabe. Talvez uma caminhonete 4x4, ou aqueles caminhãozinhos menores, sabe?

Eu nem sei explicar. Ir do humor ácido e inteligente às palavras mais bonitas não é para qualquer um. Fazer piadas consigo mesmo e com os filhos para demonstrar o amor que sente por eles é uma forma divertida de ver a vida e a encaminhá-la do melhor jeito. Minha mãe é assim, uma caixa de surpresas no que tange a respostas sagazes. Não perde o momento para dizer o que pensa e aflorar sorrisos por aí. Ela é muitas em uma só, é uma super mulher. É cacto e orquídea, sem deixar de ser jardim inteiro em nossas vidas. 

Para que não se percam e que outras pessoas possam desfrutar de um pouco de Juliana, abro esse espaço para suas histórias. Porque tudo que é bom nessa vida deve ser compartilhado.

Espero que gostem,

Nathália Coelho