Entrelinhas da vida

Existe uma plenitude em mim que foi adquirida com o tempo. Amadureceu. Criou raízes e asas, contraditoriamente. Raízes porque me fundamenta, equilibra. Asas porque liberta o meu direito de ser quem sou. Estou falando da plenitude de seguir a religião que quero. Da individualidade que diz respeito ao meu coração e, para mim, Deus. Apenas.
Deu vontade de escrever sobre essas coisas. Porque nem sempre foi assim. Houve uma época que tive de praticar a resiliência (não recíproca) para manter um círculo social. Resiliência para ser educada. Engolia "goela abaixo" mesmo o desrespeito por não seguir as verdades alheias. Era como uma bigorna em minhas costas. Feriam o meu direito constitucional da prática religiosa. Mas eu caminhava, pelo outro, para não desfazer laços.
O envelhecer deu olhos de enxergar o quão injusta eu estava sendo comigo. Porque eu necessito de respeitar a mim mesma antes de espalhar respeito por aí. Não, ninguém tem o direito de dar opinião, tentar te convencer, subjugar seus hábitos e modos de vida. Não! Ninguém tem que aguentar olhos tortos, preconceito, falta de educação. Não! Ninguém tem que submeter-se ao insano discurso do outro de "conversão" de uma relação que é totalmente individual e intransferível.
Digo isso porque entendo que encontrar a Deus (ou ao que dá sentido à sua vida e te torna alguém melhor) é como encontrar a si mesmo. É uma busca individual. Trilhada por pés meus. Caminhada sozinha para o meu interior. Não posso e não tenho o direito de querer que a minha estrada seja a do outro. Porque eu não sou o outro. Do mesmo modo, o outro não pode querer que a minha estrada seja a dele. Porque não o sou. A vida está aqui para que este mistério se cumpra, para cada um, de maneiras mais variadas possíveis.
E quando eu percorro a mim mesmo, não há motivo para querer intrometer na vida alheia. É tão mais instigante e inteiro trilhar para dentro dos meus breus do que ficar querendo impor uma falsa e imatura ideia "predominante" a quem convivo. É tão mais instigante e interessante a troca, a permuta, o diálogo sobre a busca de si mesmo. É tão mais amanhecer, viver assim.
Entendo hoje que o respeito é primordial para qualquer relação. Respeito é mais do que tolerância. Respeito é colocar-se no lugar. É validar aquilo que, para ele, é importante. Respeito é olhar equilibrado. Não é de cima para baixo. Tolerância pressupõe arrogância. E é a mesma coisa que nada.
Então, respeite-se primeiro. Não deixe que nada anule aquilo que pulsa vivo e forte dentro de ti. Nada tem o poder de aprisionar quem você é, inclusive suas dúvidas e movimentos. Nem amizade, nem relacionamentos amorosos, nem tradições impostas, nem sociedade, nem nada. Nada. Não se anule. Em hipótese alguma. Se você pode ser a si mesmo numa relação é porque ela é saudável. Amar é dessa ordem. Amar é dessa ordem.

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