Um trocado e um ursinho.

Foto de divulgação. Submarino.com

    Era véspera do dia das mães e as Lojas Americanas de Taguatinga sul estava lotada às dez da manhã. Um movimento incessante de pais e filhos, filhos e mães, somente filhos de todas as idades. Nessa época todos viram "filhos" por identidade e qualquer mulher se torna uma mãe em potencial. Meus olhos foram induzidos a ver pelos óculos escuros somente o ecrã de família, caminhando, conversando, esperando, escolhendo, comprando, presenteando. Era uma efervescência de produtos espalhados pelo caminho, coisas fora do lugar, um funcionário anunciando as promoções pelo alto-falante. Lá fora, um sol forte insistia em brilhar por entre as nuvens de um dia mais ou menos cinzento.  
   Daquela massa, destoava uma senhora com idade de vovó à moda antiga, com cabelos brancos, rosto afável, gordinha e com roupas coloridas - na verdade um conjunto de bermuda e camisa. Carregava enrolado no pescoço curtinho um xale, nos ombros uma bolsa de couro marrom de modelo tradicional, nas mãos duas sacolas de plástico e dois ursos de pelúcia branquinhos. Certamente produtos da loja, pois ainda estavam com o preço. À dois metros dela, estava minha mãe, entretida numa conversa ao celular. Um encontro entre as duas aconteceu.
     Para alguém que não sabemos quem, talvez uma mãe ou não, provavelmente não, os bichinhos brinquedos seriam dados de presente. A senhora começou a contar as notas e moedas, guardadas dentro de uma bolsinha de zíper. Faltou-lhe R$ 2.
       - Moça, tudo bem? - disse, se aproximando da minha mãe.
       - Tudo bem, senhora!
       - Eu queria levar esses bichinhos, mas falta dois reais. A senhora podia me ajudar?
       - Mas dois reais dá? 
       - Dá sim... vou escolher só um dos dois. Tenho vinte e um. Ele custa vinte e dois e noventa e nove.
       Minha mãe pegou quatro reais dentro da bolsa e entregou à senhora. Ela retribuiu com as palavras de seus braços num abraço amável que envolveu toda a minha mãe, que, por sua vez, a abraçou de volta. Em seguida, veio o "obrigada" emocionado e também um desejo de um belo dia das mães. O abraço, um ursinho, uma ajuda e uma corrente de coisas boas em meio ao consumismo das datas criadas. Uma atmosfera de humanidade. Quem saiu ganhando mais? Quem quebrou o muro da distância e se fez ponte num abraço entre irmãos humanos que são.

Comentários

  1. Nath... lágrimas. Lindo! Vivi uma situação parecida esses dias. Não conseguia achar de jeito algum as moedas da passagem, e uma moça levantou-se e pagou minha passagem. Depois que achei, fui devolver o dinheiro, e ela não aceitou. Guardei as moedas logo que percebi que minha devolução tiraria o brilho do gesto nobre da moça. É lindo quando as pessoas saem de seus casulos para ajudar o próximo.

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