Sobre o matar por amor



     Estarrecida e triste. Foi assim que fiquei quando cheguei em casa, depois de lidar com a história do professor universitário, Rendrick Vieira Rodrigues (35 anos) que matou a aluna de 24 anos, Suênia Souza Faria, com a qual, meses antes, teve um relacionamento amoroso, em Brasília. A princípio o pensamento 'Que mundo cão!' faz a notícia ter um sentido e pronto. É com ele que se trabalha e manuseia a cobertura jornalística. Veste-se uma máscara de profissionalismo e anula qualquer envolvimento emocional diante do fato. Tudo em prol do trabalho. Mas assim que a ausência do ambiente da redação vai se esvaindo, mais latente dentro da gente emerge o lado humano. Aos poucos, ressaltam-se a crueldade e loucura que envolveram esse homicídio.
     Antes de ser jornalista, sou mulher. E enquanto mulher, fui universitária, serei sempre uma aluna. Vivi um ambiente acadêmico, fiz amizades com meus professores, estive bastante próxima de uma realidade como a dela. Seu pai mora na mesma cidade que o meu. (Bobagem, mas esse detalhe piorou o sentimento aqui dentro). Na flor da idade, Suênia foi maculada pela morte, privada de um tempo que tanto sonhava e não pôde conhecer porque aquele que deveria ser uma das pontes para o seu futuro, tirou-lhe a luz dos olhos, cessou eternamente seu coração. O motivo? O amor...
     Um amor infantil, egoísta, de plástico. Um amor cheio de desamor por si mesmo. Um amor revestido pelo ciúme e a possessividade. Um amor carente de Deus. O professor Rendrick é a prova viva de que nenhum estudo do mundo, por mais complexo e intenso que seja, nenhuma dosagem de conhecimento das leis e mais alto cargo que ocupa são capazes de isentar um ser humano de SER HUMANO na sua forma mais irracional e imatura.
    Quem matou Suênia não foi o advogado. Foi um homem vazio de sentimentos. Frágil em suas relações humanas. 'Uma criança adulterada pelos anos que a pintura escondeu.' Como bem cantou Renato Russo. Foi um homem movido pelo o impulso da raiva, do ressentimento. Rendrick estudou tanto para tirar zero na Escola da vida. A bela carreira que aparentemente conseguiu construir desmantelou-se como castelo de areia em menos de uma hora. E é aí que nasce a contradição que assolou todo o DF.
   Um crime aos moldes de quem está à margem da sociedade, os chamados marginais. Afinal, esses sim tem um motivo superficial para justificar o homicídio, que em todo caso, é injustificável. Agora, qual é a diferença do professor para esses outros homens, além de o fato dele estar inserido em um contexto social comum? Nenhuma. Posso falar sobre a semelhança: a falta de Deus. 
   Para mim não existe outra resposta senão essa: a carência de um sentido aos dias. Só Deus é capaz de retirar a máscara de raiva de nossos olhos e apagar qualquer pensamento que vá contra os princípios da vida. Só Ele é capaz de frear os impulsos. Deus é o único capaz de preencher com amor verdadeiro, e, tornar o amor que distribuímos ao próximo, sempre mais puro e desprendido de qualquer interesse. Se ele estivesse revestido por esse amor e soubesse lidar sabiamente com as perdas, Suênia estava viva.
    Posso estar errada, pois não conheci a pessoa de Rendrick. Porém, essa é a impressão que dá. De que ele, no momento em que ficou desnorteado com o término do relacionamento, e desse sentimento arranjou forças para comprar a arma, premeditar o crime, a chamar para conversar, a forçar ligar para o marido, e dar os três tiros em Suênia, estava necessitado de Deus.
    Sim. Ele, eu, nós e o mundo precisamos de Deus. 
    O mundo precisa de Deus, muito mais do que só profissionais capacitados. 


    (...)

Comentários

  1. PARABÉNS Nathália,você soube fazer uma análise real do acontecido com os sentimentos do professor, falta de Deus.
    Quando deixamos os impulsos negativos tomar conta de nosso coração, colocamos o Senhor de lado.
    Beijos, Junice

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