Trivialidades
Nathália Coelho
O dia pediu trivialidades, mas não consegui vivê-las por conta da rotina. Foi densa, cansativa essa tarde. Não vi o nascer nem o por do sol. Nem cantei no chuveiro. Não conversei fiado com a minha vó enquanto assistíamos pela enésima vez o filme da sessão da tarde. Minhas avós nem estão aqui. E eu não estou lá, e nem lá. Essa tarde pedia pipoca e edredom, ou redes sociais sem hora pra sair. Quem sabe uma saída com a mãe para pagar uma conta ou comprar qualquer besteira? Um passeio no parque, o cheiro do café fresco e o pão de queijo quentinho sobre a mesa. E a mesa... forrada com um pano florido, como deve ser a vida. E da chuva, que tanto falei sobre, não senti o cheiro da terra molhada. Falei sobre ela de forma distante. Sem percebê-la.
É do senso comum que falo hoje. É do âmbito familiar que emergem as inquietações. Escrevo sobre os pequenos prazeres da vida que carecem de sentido. Devaneio pelo simples fato de viver em comunidade. Nessa tarde não vi meu pai. Nem abracei com força minha irmãzinha. Meu irmão saiu e não me deu tchau e eu não apreciei a comida tipicamente mineira da minha mãe. Queria Formosa ou Monte Carmelo. Queria Goiás, Minas Gerais! Menos Brasília. E se tivesse só Brasília, que fosse das peças teatrais ou cinema. A capital dos monumentos e partilhas entre amigos.
Há tempos não tenho o prazer de acordar com os galos, trabalhar de manhã e pegar o ônibus pra casa, assim que chegasse na parada. Deitar a cabeça no vidro da janela e, com o fone de ouvido, viajar mentalmente para onde quiser ir, ou os sonhos puderem levar. Assistir a novela das seis e morrer de chorar. Das trivialidades que podem ser vividas com frequência quando faltam responsabilidades. Ah! O peso da idade. Amadurecer... sobre isso que falo.
E nem tudo é estudo, tampouco trabalho. Para viver a complexa existência, exercício de leveza. Sempre.
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