A vida ou o Jornalismo?
Brasília tinha praia. Um litoral lindo, que margeava as casas do Lago Sul e Norte. Era fim da tarde e eu estava trabalhando. A redação, ampla e arejada com grandes janelas de vidro, davam direto para a Esplanada dos Ministérios. Correria normal, passa um rádio aqui, atende um telefone ali, discute uma pauta, digita, monitora sites. De repente, uma colega chega gritando, sem forças: "Alerta de Tsunami! Alerta de Tsunami! Deu na rádio escuta." Os rostos se apavoram. Correm todos para ver com seus próprios olhos. As ondas gigantes já se aproximam. O primeiro a ser engolido vai ser o Congresso Nacional. Mas vai chegar na gente. Coração acelera e paralisa as pernas. O que fazer, meu Deus? Instaura-se um ambiente de sofrimento e desespero. Cada um corre prum lado, tentando se salvar. Pego as minhas coisas. Ouço até o barulho da chave do carro entre meus dedos. Já estou chegando na porta de saída quando o meu chefe segura o meu braço e diz:
- Você não vai.
- Por que?
- Porque precisamos de alguém para cobrir in loco o tsunami. Você precisa apurar as causas, a magnitude, feridos etc, isso tudo, claro, se você sobreviver.
Solto uma risada sarcástica.
- Fica você - dou um empurrão que solta o meu braço. - Nem aqui e nem na China eu morro pelo Jornalismo. Minha vida vale mais. Me demito.
Saio correndo chorando, não sei se pela coação, pelo tsunami ou pelo desemprego. Chego no carro e percebo que ele foi arrombado! Existe uma chave de fenda na ignição. Provavelmente o bandido ficou com medo da onda e vazou, penso. Ligo o carro, saio rasgando as ruas. Pelo retrovisor as águas se aproximam. Caos. Quando consigo pegar a Estrutural, acordo de supetão. Suada. Ofegante.
Era sonho.
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