Cristãos que crucificam



Condenar o próximo. Esse tem sido o "mandamento" ao contrário praticado pelos cristãos dessa geração. Cristãos que crucificam. Cristãos que observam a cruz do outro e tacam pedra, do alto, porque é nesta posição que se consideram estar. De vez em quando eu paro e fico a imaginar Jesus sentado em uma banco celestial observando a Terra. Deve chorar e pensar: "Pai, ninguém entendeu as histórias que contei e vivi." Não sei como é ser cristão pra você, e também não sei se faz questão de ser ou se apenas veste uma identidade superficial como tantas outras. Mas, sabe, ler coisas aqui, nesse ambiente virtual, e conviver com os "que seguem Jesus" tem sido uma tarefa de autorreflexão.

Eu preciso entender. Expliquem-me. Como é caminhar com o Cristo e olhar o seu próximo se achando superior à ele? Como é abraçar o cristianismo e achar-se juiz de todas as coisas, apontador dos erros alheios, mestre de obras de muros entre as diferenças e não de pontes? Como é ser cristão e achar-se livre de pecado? Como é seguir a Cristo e ter ambição desmedida financeira e de poder, a ponto de ludibriar e passar por cima do colega? Como é defender os símbolos de sua fé com unhas e dentes e não dar bom dia para o porteiro? Como é ser esse tipo de gente tão imune às dificuldades próprias e que observa o mundo sob a ótica do "beijos, sociedade, eu sou a nata da parada toda e tô indo direto pro céu"? Bom, deve ser fácil viver assim. Dirá os nazistas, separatistas de toda espécie, os amantes do apartheid.

Não! NÃO! NÃÃÃÃÃÃO!!!!! Jesus é humildade. Não nasceu em berço de ouro, mas entre os animais. Pais pobres, muito pobres. Jesus é partilha, alteridade, amizade. Não jogou pedra em Madalena. Mas a acolheu e mandou os outros embora. Jesus estendeu a mão à adúltera. Jesus é verdade. Verdade no sentido de que não se mascara. Não ludibria (a si mesmo). Não é hipócrita. Assume o seu eu, e é livro aberto. Não precisa "se fazer" para ninguém. Jesus é calvário. C-A-L-V-Á-R-I-O. Jesus se PERMITE dilacerar, ficar em carne viva. Jesus ACEITA a humilhação barata e persegue o caminho do sofrimento. Jesus SOFRE, afinal. E lá na cruz, pregado, AMA o ladrão. LADRÃO. Jesus acolhe, reúne, afaga, abraça. E ao fim, revive novamente, para mostrar que para cada dor há sempre uma alegria posterior.

A cristandade em mim está em espelhar a minha vida nos exemplos que Jesus deixou. O "ser cristão" vai muito além da premissa "Jesus morreu para salvar meus pecados e eu não preciso fazer mais nada agora." O ser cristão, ao meu ver, é conseguir RE-SIGNIFICAR a sua vida ao olhar a vida de Jesus. É entender que "salvação" está em como eu lido comigo mesmo e com as minhas infinitas e infindáveis dificuldades. É entender-se imperfeito, incompleto, limitado, pecador, HUMANO. A partir daí, caminhar cotidianamente para tentar ser melhor. E como eu faço isso? Sofrendo e amando, porque uma coisa está atrelada a outra. Sofrendo e amando a mim e ao próximo, afinal, cada pessoa necessita de ser tratada como uma pessoa que é.

Não adianta dizer-se cristão e agir como fariseu: acentuar desigualdades, abolir o respeito, impor hierarquia humana, marginalizar o outro, tornar superficial a vida, corromper-se por dinheiro e poder, subjugar o igual, achar-se detentor da verdade, inquisidor da vida alheia. Nem Jesus impôs a si mesmo. NEM JESUS IMPÔS A SI MESMO.

Quem sou eu então no jogo do bicho... Ah nem! (...)

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