RESPOSTA À CRÔNICA DE SILVA PILZ, PUBLICADA NO O GLOBO ONLINE HOJE



Silvia, 


Você já teve problema de pressão? Porque provavelmente quando começar a ler a repercussão das suas palavras nas redes sociais os seus nervos podem ficar à flor da pele. A pressão cair ou subir... Caso isso aconteça, você vai recorrer a quem? Ao menos que tenha se formado em medicina, tenha parentes ou conhecidos médicos, terá de usar o método tradicional e se dirigir a um hospital. Mas a questão é: com que roupa você vai? Dou uma dica: vá mal arrumada, porque caso se vista bem vai passar o vexame de parecer uma pobre. Ah, seja diferente, cacheie o cabelo. Seus lisos podem parecer que usou chapinha e não vão pegar bem. E se o doutor te passar determinados exames seja bem grosseira, como aquelas pessoas mal amadas que reclamam de tudo. Se usar da educação vai parecer uma pobre que está adorando o atendimento. 

Torça ainda para que o chão da clínica esteja bem sujo e seja de cerâmica normal, tenha até umas lascas ou alguns bichinhos andando entre os tubos de coleta. Tudo limpo dá a sensação de estar em uma novela. E se agradar daquilo ali vai parecer pobre. Se precisar tirar sangue, torça ainda para não precisar fazer jejum. Depois, vai ter que comer o lanchinho oferecido pelo laboratório e as pessoas podem achar que você está gostando. Nossa! Que vexame! E aí, com a barriga vazia, vá trabalhar. Quem precisa de atestado quando está doente? O bom é se mostrar forte, imbatível, inabalável. Se fraquejar vai parecer pobre. Credo! 

Se me permite, te darei outra dica. Enquanto não sair o diagnóstico, só procure saber mais sobre a sua doença nos relatórios acadêmicos dos estudiosos das universidades do Japão. Mas tem que ser na língua deles, sem tradução. Nem se atreva a pegar um dicionário. Nem procurar na internet e nem ver TV. Tentar decodificar e facilitar o entendimento das informações é coisa de pobre. Brega! Ah, e quando souber da notícia, guarde-a pra você. Não conte a ninguém. Deixe que essa informação te aniquile por dentro, porque compartilhar com a família ou com amigos é coisa de pobre! Aff! 

Lembre-se também: na hora da crucial conversa com o médico, não diga nada. Não fale nada. Não pense também não. Ah não ser que você seja uma super dotada da medicina e saiba todos os termos técnicos e prolixos do corpo humano. Se não, vai que você erra e se passa por pobre! Aí ao fim, também não coma camarão, nem tampouco alguma coisa que lhe dê prazer. Se gostar de camarão vai parecer pobre. Em enterros ou em outros locais de extrema emoção, segure-se em pé.

Mas o maior e mais profundo conselho de todos ainda não te dei: seja INFELIZ. Não vá a festas nem a churrascos. Fique sozinha e enfurnada em casa. Também não ouça música, nem se atreva a dançar. Se não, vão te chamar de POBRE!!! Porque a pior coisa é quando você vive a vida sem a vergonha do que os outros vão pensar e acaba virando objeto de humor cáustico. Deus te livre! Portanto, seja rica, e se prive das manifestações espontâneas e leves da vida, enquadre-se nos padrões midiáticos e comportamentais para ser aceita, e também não demonstre alegria nos pequenos momentos nem tampouco queira degustar da sensação de estar sendo bem cuidada. 

Continue seguindo os seus próprios preconceitos, ops, conselhos!
Seja infeliz! E eu não vou babar de inveja.

(Nathália Coelho, Jornalista e escritora)


Para ler o que motivou a resposta: Texto de Silvia Pilz

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