Guerra fria contemporânea
1989. Queda do muro de Berlim. |
Que poder é esse tem você de mexer de tal maneira com o meu equilíbrio, ao demonstrar-se tão desequilibrado para com a vida? Eu deveria seguir meu caminho sem pestanejar já que tenho em minhas mãos a chave para a liberdade: o amor. Posso dá-la a quem eu quiser. Posso eu mesma abrir portas e janelas por aí sem necessitar de um apoio externo. Mas ao pensar que a fechadura de seu ser não se destrancou ao receber minha chave, desabo dentro de mim. Uma mancha roxa proveniente de um soco cresce no peito tal qual uma patologia desconhecida. É preciso se aquietar e ir para longe de tudo que possa me lembrar você.
O hematoma, contudo, persiste em enraizar-se unindo-se as entranhas da inquietação mental. O pensamento não para e precisa encontrar uma resposta para o dilema: Por que raios pessoas como você agridem tanto o seu oposto? Silenciosamente. Sem pronunciar uma palavra. Ignorando e alastrando indiferença para a possível ameaça do reino do senhor sozinho. Por quais motivos a clausura alheia abala as estruturas do terreno sem muros de delimitação? Perguntas sem respostas. Já cansei de fazê-las para todos que se fecham dentro de si, e ainda assim conseguem se alojar dentro de mim.
Deve ser por isso. O conflito, mais uma vez nasce das contradições da vida. No meu interior não cabe quem não quer se envolver. O meu interior repele quem me repele por não conseguir fugir do próprio egoísmo de viver sozinho. Mas parece que é essa sua função: colocar rédeas, construir paredes, cercar terrenos, fechar portas e janelas do outro para que ele possa ficar como você. Prefere estar envolto do medo dos sentimentos, da tensão das coisas mal resolvidas. Quer que o outro seja ele, sem dar chance para que ambos sejam um. E se isso não acontece, prefere o afastamento à contrariedade de suas ideias. Covardia. Ninguém dá o braço a torcer. Acabam vivendo assim: uma guerra fria. Frio: assim tornou-se a relação dos dois. Estranha, banida ao esquecimento forçadamente, esquelética, frágil. Bem na hora em que tinha potencial para se tornar flores na estrada. Ficou cinza. Perdeu as cores.
Das recordações boas escorrem a agonia do presente. Doi pensar que as coisas chegaram onde estão só porque um fio de futuro juntos perpassou os olhos de um dos lados. Quanta besteira! Quanta imaturidade! E parece que esses conflitos de relacionamentos são oriundo do que o mundo se tornou. Quantos problemas a sociedade do espetáculo promove aos seus viventes. Quanto vazio individualizado, temendo o encontro, a partilha, a entrega. Quão superficial ela nos torna a ponto de nos importar com padrões estabelecidos. Quão capaz ela é de fazer o ser humano repelir o sofrimento afim da busca pela pseudo felicidade. O sofrimento faz parte desse caminho. É aprendizado. Quão capaz é a sociedade de transfigurar Deus a ponto dos seus esquecerem que o seu amor é tão, tão, tão, tão mais profundo do que tudo isso e pode preencher qualquer buraco da existência? Literalmente, todos estão procurando nos lugares errados. E ser fechado é oriundo dessa falta de fé em Deus.
Mas não posso julgar. Isso tudo é um desabafo. É a materialização em palavras da "mancha roxa" dentro de mim. Todos têm direito de viver da maneira que lhe convém. E que o outro arque com as consequências da ausência, da saudade, dos sentimentos enfeitados de purpurina. Nem tudo que existe precisa ser correspondido. Nem tudo que é bom pra mim, vai ser bom para você. Mas só te digo uma coisa: um dia o muro de Berlim cai. Cai por forças maiores, por insistência, por mãos alheias ou por quem o construiu, de fato. E olha, acabar com o simbolismo já é o primeiro passo para a transformação. E já dizia Pe. Fábio de Melo, quem decidiu pela luta já é um vencedor.
Devaneios. Devaneio. Devanei... Devan... Deva... Dev... De... D... (...)
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