Sobre estar pronto.


O abraço, Gustav Klimt
Sim, temos um ponto. Um ponto de amadurecimento, igual fruta quando cai da árvore. Acabo de crer que atingimos esse ponto no momento em que Deus nos permite caminhar ao lado de outra pessoa, a fim de construir uma família. E isso deve acontecer naturalmente, como o bebê aprender a engatinhar, em seguida caminhar, falar e assim por diante. Ou, continuando com a primeira analogia, a semente ser plantada, virar mudinha,  crescer árvore frondosa, ter flores e frutos. As coisas devem fluir, e, se fluiu, era porque tinha de ser. Dar certo não significa que a estrada será isenta de problemas, pelo contrário. É por isso que serve o ponto. Para lidar com as adversidades sem invadir a individualidade do companheiro e feri-lo por dentro. 

Contudo a nossa humanidade e afastamento do equilíbrio divino faz com que nos precipitemos, levados pelo afã do envolvimento da paixão, à construção de famílias forçadas. Não digo somente com a chegada de uma criança (o que é importante demais, talvez o estágio mais avançado do que estamos discutindo), mas principalmente ao comprometimento com os sentimentos alheios. Já ouviu falar em "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"? Pois então! Tenho pra mim que Antoine de Saint Exupéry estava certo. Faz parte do "doar-se" alojar um pouquinho de si dentro do outro e receber um pouquinho dele dentro de si. A troca é o amor, e o amor precisa ser concreto e forte o suficiente primeiro em nós para então ser doado. O ponto é atingir a maturidade no amor por si mesmo para então se entregar à vida, como deve ser. 

Inseguranças, baixa autoestima, ciúmes doentios, valores superficiais e impostos pela grande mídia, decepções anteriores, problemas mal resolvidos com o coração, traumas, entre outros milhares de fatores externos e internos atrapalham e muito a harmonia de um casal. Infelizmente, eles nunca deixarão de existir. Nada vai mudar. Afinal, quem muda é a gente. O outro vai continuar sendo o outro até quando ele quiser ser daquela maneira. O diferencial vai estar no modo como vamos decidir olhar para ele. Vê-lo de forma demorada, por dentro. Ver suas potencialidades e, de alguma maneira, fazê-lo enxergá-las também. Precisamos lembrar das qualidades e minimizar os defeitos, tratando-os no momento em que se deve passar por cima, sem sofrer antecipadamente e com ansiedade. Cada coisa no seu lugar. 

É claro que deve haver também uma dose de resignação e abandono de si pelo casal. É preciso ceder de vez em quando e dialogar sempre, minimizar as discussões e as vozes alteadas. Meu pai sempre me diz que existem vozes que se fazem ouvir no meio da multidão. Vozes escolhidas, que indicam o caminho. Por isso, o cuidado com as palavras proferidas. Sim. Parece fácil. Mas não é. Eu nem mesmo passei por isso para saber se é de fato assim.! Ainda não cheguei ao ponto para ter uma família. Aliás, tudo isso descrito aí em cima só se consegue quando chega no bendito ponto. 

E como saber, como acreditar em teorias quando a vida é muito relativa? Não saber, intuir, viver apenas, traçar uma estrada imaginária e andar por ela. Imagino que cada pessoa tem sua hora. Uns mais cedo, outros mais tarde. Alguns podem nunca chegar. Deus é quem traça e cruza esses destinos e mapas da vida. 

Ela está lá, convivendo com suas ansiedades e controlando-a por meio dos relacionamento efêmeros e menos sérios para um dia poder acertar. Ele está de cá, do outro lado, há quilômetros de distância, errando para aprender na hora certa. Vão se encontrar no momento oportuno para os dois, na hora em que estiverem mais preparados para entender a longevidade e profundidade de um relacionamento verdadeiro, gerador de vidas. 

A esperança deve estar na calma de vislumbrar o belo encontro acontecer. A espera também é exercício. Ninguém planta um jardim do dia para a noite. Nem flores já nascem prontas só para serem fincadas na terra. Flores verdadeiras também passam por todos os estágios até embelezarem o ambiente. Ao contrário das flores de plástico: uma imitação barata da natureza criadora. Cuidado para não cultivar flores de plástico! Cuidado para não arrancar as flores verdadeiras antes do tempo. Ambas as situações tendem ao término. E só depois que corações foram maculados, pessoas gravemente feridas na alma é que percebemos que não tínhamos chegado ao ponto. E aí, amargamos a boca com as palavras que saem sem perceber: "Se eu fosse mais maduro, não tinha feito assim e, quem sabe, estaríamos juntos..."


Pode ser que seja assim, pode ser que não. Vai saber! (...)


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