O parque

Foto: Nathália Coelho/Taguatinga - DF

Nathália Coelho
(Escrito em dezembro de 2010)
“Para sintonizar nossa vibração, precisamos entrar em contato com os elementos da natureza”, disse um dia meu pai, num passeio à Cachoeira do Itiquira, na região de Formosa/GO. O velho estava certo. Contemplar nossos olhos com o verde das árvores, lavar o rosto com um pouco da água corrente, sentir os cabelos ao sabor do vento traz paz e tranqüilidade a uma alma perdida no asfalto da urbanização.
E não precisa ir longe para sentir-se inebriado pelos presentes de Deus. Uma caminhada matinal no parque te faz ficar melhor...
Ela acordou as 9h28. Esfregou os olhos, viu sua face espelhada no celular. “Preciso ligar pra ele”, pensou. “Daqui a pouco! Vou levantar, me vestir e comer. Bom dia domingo!” E foi o que ela fez. Na noite anterior, havia pré combinado de passear no parque com o namorado, era preciso só ligar pra ele. Apesar de gostar muito, não era comum para ela fazer estas coisas num domingo de manhã. Mas sentia que precisava espairecer, ver novos ares e, também, tomada pela onda geração saúde da tia aposentada, decidiu-se, com ele ou sem ele, ir! E foi.
Comeu um pedaço de pão, fones no ouvido, garrafa de água na mão, tênis calçando seus pés. Desceu. Deu oi para o porteiro, distribuiu sorrisos gratuitamente, inebriou-se com a música e abriu visão para a rua. O sol estava quente, mas o céu não era azul. Havia nuvens de chuva sobre sua cabeça. Em breve prece, pediu a Deus que conseguisse chegar seca ao parque. E caminhou, cantou, caminhou.
Ligou para ele, voz de sono. Infelizmente não poderia ir, estava ocupado. “Tudo bem!” Afinal, já havia tomado sua decisão. Deixa a saudade aumentar, isso é bom! Ficou dividida entre as músicas e as notícias. Rádio, ou MP3? Peferiu deixar o mundo jornalístico para a tarde. Matérias impressas, sentadas confortavelmente no sofá. Seu diálogo com a música, naquele momento, a preenchia melhor.
Pedras, paralelepípedos, um caminho de arvoredo, faixa de pedestre, sinal, carros em alta velocidade. Um dar de mão para atravessar. De longe, seus olhos enxergaram as crianças correndo, jovens de bicicleta, um vendedor de pipoca concorrendo com o sorveteiro. Homens másculos exibindo seu corpo suado para as moças esguias correndo de óculos escuros. Adentrou aquele universo.
Olhou para o céu, sorriu e começou seu Cooper. Cruzou com senhores de idade, uns de mãos dadas. “Que vivacidade!” Deu voltas, ligou para o pai. Uma saudade rondava seu peito há dias. Conversou sobre coisas da vida, riram. Amor de pai e filha transmitidos por ondas telefônicas. “Ai, como queria te abraçar agora!” Desligou, voltou-se ao momento. A música retornou aos fones de ouvido. Olha! A canção falava de amor. Pensou nele, na vida, em Deus.
Decidiu sentar. Bebeu água, alongou-se. De repente, duas meninas vieram correndo do parquinho de areia. O pai as esperava em outro banco, encostado na bicicleta.  Era uma maior e outra menor, ambas só de calcinha. Pareciam brincar na lama. Sorriam! A maior pegou a bicicleta rosa e saiu andando. O pai foi atrás, com a menorzinha, em pé sobre o cano da bike, com os braços enrolados no pescoço paterno.
Do outro lado, uma moça empurrava um carrinho com um bebê. Um senhor comprou um picolé. O pensamento aqui e lá. A música fundindo-se com a vida. A valsa alegre triste da viagem da mente. Dentro e fora, era ela, latente que impulsionava nosso coração a bater. Como a vida não para, era hora de voltar pra casa. A mãe queria alface, tomate e frutas. Outra tia viria para almoçar. No relógio, 12h!
Voltou cantando, caminhando, cantando. Afinal a vida era bela, os detalhes preciosos. Ela se sentia bela! Comprou o jornal, leu a manchete fatídica. “Quadras do Plano Piloto tomadas pelo crack.” Suspiro. Voltou-se a Deus, rezou em silêncio. Sorriu para a esperança, chegou em casa. Descansou! 

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