Vamos para 'Balads'

Nathália Coelho

- Pra onde você vai, Bruno?
- Vou sair, mãe! Vou num barzinho lá no Plano.
- Com quem?
- Com o mesmo pessoal, Jana e Karine. A Nathália não quer ir.
- Vai sem carro?
- Vamos de metrô e de lá pegamos um táxi.
- Tudo isso pra quê?
- Pra dançar, ver gente, rir e distrair um pouco.
- Sei.
- É, mãe. O ser humano já passa um terço da vida dormindo, diminuir algumas horas nessa equação não vai fazer diferença. Sua bênção.
- Deus te abençoe, meu filho. Não volta de madrugada.
- Tudo bem, mamis, volto só de manhã.
...
Em tempos de hedonismo, prazer pelo prazer, sair virou rotina na vida dos jovens e nem tão jovens assim. O que parece é que todo mundo quer esquecer a correria do dia-a-dia descansando na rua, em bares, restaurantes e boates. Casa virou sinônimo de depressão. Quem, em pleno século XXI, prefere passar a noite de sábado lendo um livro ou vendo um filme do que dançar, beber e se divertir perto dos amigos? Bom, tenho pra mim que a maioria dos jovens escolhe com facilidade a segunda opção. Afinal, ninguém quer levar o rótulo de chato.

E mesmo sem querer muito, sai, bebe, dança, ri e volta feliz da vida pra casa. E quem não foi, perdeu! E eu perdi no sábado passado. Meu amigo Bruno me chamou pra ir a um bar-restaurante chamado Bocanegra na Asa Sul. Disse que além dele iam mais duas amigas da faculdade. Não tinha carro, mas pegaríamos o metrô e depois um táxi. Aí, me bateu uma preguiça e a chata acabou ficando. Na segunda seguinte, estava lá no meu email: Relato de uma balads. ‘Isso é pra você ver o que perdeu.’

Num arquivo de três páginas, Bruno me contou toda sua noite. E parece ter sido realmente bem divertida. Sem veículo próprio, ele saiu da Ceilândia, encontrou com a Janaine e a Karine em Águas Claras. O trio pegou o táxi, como combinado até o restaurante. Chegando lá, descobriram que o local só tinha pessoas mais velhas e não se divertiriam se ficassem sentados. Detalhe para a descrição do ambiente: “durante o tempo que ficamos lá só veio na minha cabeça o trecho da música Eduardo e Mônica, ‘festa estranha com gente esquisita.’”

Rindo, continuei a ler. De lá, eles cogitaram vários lugares, até mesmo com o motorista do segundo táxi que pegaram. Decidiram ir para o Poizé na Asa Norte. Estava rolando uma festa chamada ‘EletroFunk’. Já que, segundo ele, o clima precisava ser de paquera e azaração, lá estava ótimo. “Aí sim, gente bonita, bem vestida, dançando em grupinhos, gelo seco e jogo de luzes dominando o espaço!” , ele escreveu. Bom, típicos elementos de sábado. Antes de cair na dança, beberam alguns drinks, falaram de futilidades, riram à toa. Bateu um arrependimento. Nessa hora provavelmente eu estava vendo Zorra Total... Putz!

E depois de mais ‘alegrinhos’, a noite virou uma criança. Bruno, Janaine e Karine dançaram como se a vida dependesse disso. De tudo um pouco, pop rock nacional, internacional. Na hora do reagge sentaram. Mas quando começou o funk, já era! “Nathália, você sabe, a pista ficou ON FIRE e nós corremos pra lá. Dançamos até o chão.” A noite foi mesmo só para balançar o esqueleto, se pegassem alguém era lucro, de acordo com ele. O funk foi até as 3h da matina. Quando o DJ parou de tocar, sentaram e descansaram. Nesse meio tempo a Karina já tinha caído nos braços de um rapaz. Pagaram a conta e foram embora. “No carro, comemos umas balinhas para aumentar o nível de glicose e evitar uma ressaca no dia seguinte.” E acabou.

Bom, enquanto eu estava no décimo sono, Bruno chegava em casa, as 5h30 da manhã. Fiquei meio ressabiada, deveria ter ido, dançado o batidão do funk. Posso até sentir aquela onda de energia eletrizante invadindo meu corpo fazendo tudo mexer! Pelo menos tinha me exercitado de uma forma prazerosa e não deixado a preguiça dominar meu ser. Certeza de que os momentos seriam de alegria, efusão, espetáculo. Mas não sei se isso acontece com outras moças da minha idade, mas depois de tudo, quando eu chegasse em casa, a impressão era de que o vazio seria minha companhia. Engraçadas contradições humanas. Entretanto dessa vez, eu perdi.

Mas enfim. Essa história tão comum nos dias de hoje me levou a refletir sobre as nossas condições de ‘ser jovem’ atualmente. Lembrei das aulas de ‘Comunicação e Cultura’ da faculdade e dos estudos sobre pós-modernismo. Esse é o cerne da questão. A atmosfera que envolve a sociedade impulsiona a juventude a assumir essa postura, de querer sempre o espetáculo, o envolvente, a música alta e a festa. A vida precisa estar em constante agito para se sustentar. A impressão é de que se não viver assim, sempre saindo, alguma coisa perde o sentido. O meu medo é descobrir que, um dia esse modo de ser, ao invés de base sólida se mostrará somente uma máscara para os problemas mais profundos - quem dirá - existenciais dos jovens de hoje.

Difícil entender e viver isso! Claro, não podemos generalizar. Há casos e casos, talvez os mais díspares possíveis. Mas esse pensamento tem sido latente em mim toda vez que alguém me chama pra sair. Como fazer? Tentar buscar um equilíbrio durante a semana, e... desequilibrar no fim dela? Não sei, vai saber! Dá próxima vez que o Bruno me chamar, eu descubro.-

Comentários

  1. Ei... nem vem com essa que da última vez que eu te chamei você disse que estava trabalhando. hahahaha

    Adorei a crônica.. e só uma coisa, eu não chamo minha mãe de mamis. hahahahahahahaha

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  2. Brunooooo! kkkkkkkkkkkkkkkk
    Tá bom, eu chamo minha mãe de mamis.

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  3. NATHALIA COELHO, SEM PALAVRAS PARA ESSE TEXTO. IDENTIFICAÇÃO INSTANTÂNEA. SOMOS JOVENS DESLOCADOS DE NOSSO MEIO. INCOMPREENDIDOS, PRINCIPALMENTE, POR NÓS MESMOS.

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