Chuvas de agosto
Nathália Coelho
(Escrito em agosto de 2009)
(Escrito em agosto de 2009)
- Nathália, você nasceu no Distrito Federal?
- Sim, Professor Jorge – respondi, sem saber o porquê da pergunta.
- É de praxe chover em agosto?
- Bom... – ele me pegou desprevenida! – nunca parei para pensar... Mas acho que as chuvas costumam começar no início de setembro. – continuei meio envergonhada.
- É... – respiração forte. – Que tempo mais estranho!
Esse diálogo aconteceu numa tarde chuvosa de quarta-feira no fim do mês de agosto, na Universidade Católica de Brasília. Saí da sala do professor Jorge e fiquei observando as gotas da chuva tocarem levemente o bonito jardim do bloco L, da Extensão Universitária. De fato, aquela cena era uma novidade para o mês; afinal, não era época para chover. Há uma semana, parada no mesmo lugar, vi um passarinho brincando dentro de um pote de vidro com a água que jorrava da mangueira.
- Ah...! Quem me dera estar como esse passarinho, se refrescando nesse calor! – disse com alegria uma senhora que passava. Voltei os olhos para ela e retribui o sorriso.
Chuva em agosto é um fenômeno inusitado, mas sem significar que seja algo ruim. Todo ano, a população do DF sofre com a seca e baixa umidade, reclama pela súbita mudança de tempo, se espanta com número exacerbado de focos de incêndio provocados por uma mínima faísca caída no cerrado do Planalto Central. Esse é o cenário habitual da época. Entretanto, em 2009, o fim daquele mês estava diferente, com cara de dezembro, chamando férias e clima de fim de ano. Com passos preguiçosos, continuei o trajeto até a minha sala e deixei a porta aberta. O sol estava se pondo e era possível ouvir o barulho da chuva cada vez mais forte, engrossando os pingos. O cheiro da terra subia.
Devaneios me levaram até o meu quarto, no outro extremo de Taguatinga. Minha cama e o cobertor me chamavam para uma noite (ou uma tarde?) bem aquecida de sonhos. O relógio da cabeceira marcava 18h20. O computador da sala também apontava 18h20. Barulho de chuva na janela. Chuva no Campus da Universidade. Vontade de dormir. Uma hora para começar a aula de Teorias da Comunicação II, e mais outras quatro de intenso conteúdo acadêmico. Vontade de faltar a aula. Ressentimento. Sim... Ficar é o melhor a fazer.
Aos poucos, as mulheres da extensão esvaziavam o prédio com passos largos, os saltos das botas tocavam o chão. De súbito, outra coisa me veio à cabeça. No frio, as pessoas tornam-se mais elegantes e bem vestidas. Cachecois, blusas de lã, pesados casacos adornavam os estudantes da Instituição. Era uma oportunidade de tirar tudo do armário. Peguei minhas coisas, tranquei a porta e me uni à multidão que deixava o local. Abracei os livros como dois namorados se abraçam e fui caminhando lentamente até a lanchonete, em busca de um chocolate quente.
Era agosto, chovia, e aquele clima envolvente era bom...
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