Estigmas
Nathália Coelho
(Escrito em maio de 2009)
É tão fácil julgar! Difícil é olhar para dentro de si e perguntar: "Quem é esta figura que me encara diante do espelho?"
Oras, quem me encara diante do espelho é o meu reflexo, eu mesmo. ''Essa é uma pergunta que qualquer tolo pode responder!''
Bem, não está errado, contudo a resposta é a mais superficial também, a mais simples e fácil do auto engano.
Aquela imagem no espelho é uma pessoa diferente para cada um que olhá-la. Somos formados por uma pluridade de faces que ao longo do tempo vão amadurecendo, desfazendo-se, perdendo-se pela estrada, sendo trocada por melhores ou piores, modificada pelas circunstâncias. Quando percebemos quevivemos e fazemos parte de um planeta chamado Terra, um continente chamado América, um país chamado Brasil, uma Região Centro Oeste, um Distrito Federal, uma cidade Taguatinga, uma Rua, um lote, uma casa, tomamos consciência da nossa pequenês no universo, e precisamos de alguma forma se afirmar diante de todo esse turbilhão que nos diminui a um ínfimo grão de areia.
Como um passe de mágica, essa imagem no espelho se engrandece involuntariamente, o ego infla a ponto de explodir, tentando tornar-se visível aos demais. Nessa vontade de ser grande, é que as personalidades se perdem e se encontram, os estigmas e preconceitos crescem ao redor do indivíduo. Aquele ponto chamado "SER", indecifrável, escondido lá no fundo da alma é sufocado pelos outros milhares de pontos jogado por outrém, em você.
Quem se conhece completamente? Acabamos perdendo as rédeas do cavalo, e tornando-se mais flexíveis nessa visão. De repente, o espelho quebra-se e milhares de caquinhos multiplicam sua imagem. Ah sim! Agora tem um pouco de você aqui, ali, acolá... a fusão de milhares, em uma pessoa só.
Quantas vezes já disse a si mesmo: "Eu nunca faria isso!" Quando deu por si... estava lá, contradizendo suas palavras, "pagando a língua". O fato, é que ninguém sabe do dia de amanhã e nem tampouco a situação que estará inserido.
Entretanto, mesmo com tantos labirintos a se desvendar dentro do ser, é possível delimitar um território, demarcando seus limites, construindo as estradas que sairão de lá. Nasce então, sua individualidade, seus trejeitos (ora hereditários, ora adquiridos, roubados, inventados), suas manias, crenças, gostos. E você acaba se tornando uma instituição na qual as pessoas identificam, sabem sobre e mesmo assim estigmatizam. Já parou para pensar que você próprio pode vender uma propaganda errada da sua pessoa? ... e os meios tecnológicos só vieram facilitar essa publicidade superficial e incerta.
Devaneios... devaneios sobre o ser. O exercício metalinguístico que envolve a auto-reflexão é só uma imagem que passou correndo pelos seus pensamentos enquanto analisava sua silhueta diante do espelho.
- Ei! Acorda! Anda logo, menina! - sua mãe grita.
... saindo das introspecções, novamente está lá, parada à tua frente sua imagem. Você sorri, olha para baixo e pensa... "Eu preciso trocar essa calça!" E sai... continua a vida... sem pensar em mais nada!
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