Os ensinamentos do tempo

Nathália Coelho
‎"E palavras mordazes que machucam tanto, 
não vão levar a nada, como sempre..."


Já escrevi muitas coisas que desagradaram os olhos de quem lia. Falei mal de muitas pessoas. Fui irônica. Usei do sarcasmo. Tudo para aliviar a dor da perda repentina sofrida pelo coração. Peguei a agonia do término de relacionamentos infundados e a transformei num poço de facas. Atirava-as por todos os lados. Era como um alívio indireto. Arrancava gargalhadas dos amigos, uma piada e outra jogada ao vento. Tomada pelo torpor da raiva, fui cega para ver o estrago que fazia ao alvo de tudo aquilo.

Não retiro nada que fiz, pois, de fato, foi a tática escolhida parar driblar os fantasmas do medo e da mentira que me rondavam madrugada adentro. Às vezes, falar pelos cotovelos, digo, escrever assim, para atacar, só é interessante quando começa a amaciar o peito, dando passagem a calmaria que logo vai desembarcar. Contudo, se fosse hoje, não faria igual. Não atiraria pedras. Não lançaria facas. Não transformaria minhas palavras em folhas secas, tampouco deixaria escorrer o veneno pelo canto dos lábios. 

Sabe, o tempo traz as lentes necessárias para entender que nem tudo é como a gente quer. E que as palavras, por mais ácidas que sejam, só queimam a nossa própria face por meio do outro. Quando nós sentimos o pingo quente a corroer aquela máscara de sentimentos estranhos colada em nosso rosto, a realidade vai se abrindo como as cortinas de um teatro à nossa frente. Lá, no palco da vida, quieto e encolhido, está o que você chamava de algoz, dias atrás. Mais uma vez se enganara. É humano cheio de erros como a gente. Não fez de propósito. Os erros foram frutos da imaturidade, do susto de 'se auto-descobrir' sozinho em seus esconderijos do interior, antes não visitados. E, ao cruzar nosso caminho, se viu perdido em si mesmo.

Atirar palavras é um ato compulsivo. Consequências inconscientes geram inimizades e nuvens cinzas prestes a desabar em tempestade sobre nós. Só conseguimos sair desse tempo ruim quando limpamos nosso próprio tempo, abrimos o céu da nossa mente e deixamos raiar o sol do perdão em nossos corações. Aí, sim! As palavras cessam porque não tem mais fundamento. Sem base, desaparecem no mesmo segundo que tentaram ser escritas. Vão na ponta do lápis e voltam rapidamente para de onde não deveriam nem ter saído. Nada de neblina. Só gotas de orvalho brilhando. 

O perdão traz a aceitação que de que tem coisas que não são pra ser e que, se forem, um dia, voltarão. E assim seja! 


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