Mar vivo ou morto?


"...é preciso estar tranquilo
pra se olhar dentro do espelho! 
Refletir... O que é?"
Nathália Coelho
Era noite quando me deparei com a estranha calmaria. Percebi, nada me inquietava. Ideias sóbrias, pensamentos retos, mãos repousadas sobre os joelhos. Deitei um pouco e fiquei meditando sobre essa ausência temporária de mim. Não entendia o que se passava. Geralmente, noites dadas à solidão acabam cheias de interrogações pelos cantos da casa. Aliás, todos os pontos possíveis dentro da mente fervilham no caldeirão de acontecimentos revistos. Mas dessa vez, estava vazia de reflexão. 
O que ocorria? Não era falta do que pensar. Pelo contrário! A pilha de assuntos acumulados era exatamente o que me levava a preocupar com esse 'não pensamento'. Temi a mim mesmo. Confesso, não entendi o motivo de estar tranquila. (Estava tranquila? Não sei se podia chamar isso de tranquilidade.) Afinal, me aflige pensar que os dias podem passar sem que eu os perceba; que as coisas aconteçam aos meus olhos e eu não consiga ver além. Quero ser protagonista, não coadjuvante dessa vida. Quero um equilíbrio entre os dois papeis... Só que às vezes, ficamos assim, sem nos conhecer.
O fato é que se a ausência da reflexão não significar esperança e confiança no amanhã, não haverá tranquilidade de espírito e, sim, um vazio interior. Cabe a nós identificarmos o que estamos vivendo. Tarefa difícil! Nem sempre conseguimos enxergar a nossa verdade. O mar dentro de mim é de fato calmo porque cessou a tempestade, ou é mar morto, vazio de vida?
Se for calmaria porque passou o tempo ruim, tudo bem! Mesmo que saibamos que lá na frente enfrentaremos novas tribulações, o exercício de passar pela dificuldade e superá-la converte-se na liberdade temporária do que pensar. É descanso merecido. Naturalmente, a prática da reflexão volta sem nem sentir. Mas, se percebe que o mar está morto, precisamos de uma sacudida. A pseudo-tranquilidade traduz minha inércia diante dos dias. É falta de ação, acomodação, medo do que possa acontecer caso eu pegue um remo e cutuque as águas paradas. 
Sim, preciso me policiar! Eu, você, todos nós. Eu quero ser a tranquilidade que vem ao amanhecer de uma noite tempestuosa, não a morte em vida que não aprendeu a enfrentar a si mesmo. Quero distinguir os vazios que há em mim dos sentimentos que se confundem. Quero aprender a ser dono do meu terreno pela sabedoria divina. Eis aí quem é capaz de nos ajudar: Deus. Rezemos para que consigamos separar as duas coisas, e agir da melhor maneira para cada um dos momentos. Foi o que fiz aquela noite. Rezei. 
(...)

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