Mãe.
O cansaço estava nas coisas que em nove meses teve de aprender a fazer. Estava nas noites mal dormidas para velar o sono da pequenina. A dor era física pelo acúmulo de atividades. Mas a mente curiosamente estava serena, embora permeada pela medo da novidade dos dias. E cada manhã era uma batalha vencida. Acordava, dava de mamar, calava o choro, trocava fraldas, lavava roupinhas, cozinhava, limpava o quarto, ligava o som em músicas infantis, fazia a menina dormir novamente, passava as roupinhas limpas, arrumava o armário, dava de mamar outra vez, brincava um pouco. A noite caía. O marido chegava. Cuidava dele também. Jantavam. Nem mesmo a novela via mais. Entendera: estava cansada porque era ser humano. E, sendo assim, o corpo respondia aos excessos. Nada tinha a ver com o ponto de luz que veio de seu ventre.
A cada balanço dos braços, a cada acorde de uma música de ninar, a cada fralda trocada, inflava-se dentro dela a sensação de futuro. E um futuro cheio de cansaço. O que ela mais queria era nunca mais abdicar dessa situação em que se viu inserida. E finalmente sorriu. Riu de felicidade. Entendera o sentido da vida. Louvou a Deus pela graça. E agradeceu o cansaço. Afinal, o que era essa sensação diante do amor materializado na pequena? Ela tinha que ser inteiramente dela, enquanto aquele coraçãozinho respirasse. Sabia que mais tarde, deveria lidar com a separação do voo da maturidade da filha, mas isso pensaria em outra hora.
Por agora, ela era sua. Da maneira mais sublime. Da forma de amor mais genuína do mundo. E bastava.
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