Quentinho do sofá
Nathália Coelho
Deitei minha cabeça no braço do sofá. O ‘quentinho’ amassou minhas bochechas. Era o calor do notebook, que minutos antes estava sobre o lugar. Fechei os olhos e imaginei um abraço bem apertado produzindo o mesmo efeito daquela temperatura. Já havia sentido aquilo antes. Era igual à sensação térmica do afago dos corpos a proteger dois corações apaixonados. Quando a energia de um casal em sintonia se encontra, é como raios de sol ao amanhecer. A luz aquece devagar o dia, até explodir em brilho e quentura.
Em seguida, vem um beijo. Momentos de ternura. O olhar cúmplice. O carinho na mão. A conversa fiada. O aninho no colo do outro. As horas, a despedida, a saudade, o dia seguinte, as ligações, as brigas e reconciliações. Tudo isso é cheio do ‘quentinho’ do sofá, o doce sentimento de quem ama e é amado, reciprocamente. E tudo isso passou como um cometa enquanto eu recostava minha cabeça sobre o divã.
Abracei a almofada e pensei em minha solteirice. Às vezes, ficamos, assim, meio carentes. Querendo e imaginando uma pessoa ao lado para dividir o plantio diário e unir territórios. Querendo ser diálogo para o outro, ser conforto. E confortar-se também. Sentir que alguém te ama por inteiro é bonito e faz bem.
Sobretudo estar só não é um problema. E digo mais, pode ser solução. O amor a si próprio é ressaltado. E o calor vem do próprio abraço. É tempo favorável para acalmar os sentimentos e canalizar os desejos. Refletir em Deus. É época, todavia, de tomar cuidado para não deixar se perder da essência das relações. Afinal, fácil é cair na superficialidade imposta pela modernidade. E ser de vários, e ser só por uma noite, e esquentar só o corpo, e aceitar ser aluguel de território para festas e confusões. Esquecer guardado lá no fundo do armário do inconsciente a prerrogativa que o nosso corpo é templo do espírito. É morada de Deus, é cálice sagrado. Nem todos o enxergam assim e acabam por perturbar nossa visão...
Eu, particularmente, não sou dada às efemeridades. A mim não preenche. Feliz aquele que se contenta em ser assim. A vida pode ser mais leve, menos complexa. Mas eu, ai, eu! Sou dada ao romance das cartas, dos poemas e tradições antigas. Não vou me punir por isso. Acho que tenho a alma velha. Deste modo, por enquanto, por minhas escolhas e atitudes, vou ficando assim. Sentindo o calor só do sofá. Certeza em Deus que, um dia, numa esquina um encontro térmico acontece.
Depois de um suspiro... aplausos.
ResponderExcluirBeijos,
Lilian
É minha gata, não tá fácil para ninguém..
ResponderExcluirbeijos
Abs
como essa menina é dada... dada às poesias! ausdhuasdhua. Bela, bela crônica! Só achei ambíguo esse tal encontro térmico na esquina. VIGIA, DEUSEMAS asudhasudhauda
ResponderExcluirkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk essa menina é dada... olha o que ele fala!! Ai, Davi, seu besta! Obrigada!
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