Os bastidores das flores e da notícia


Seu Ronaldo Manoel e eu, na Tecnoshow em Rio Verde (GO)



Por Nathália Coelho

Chegou, parou e ficou observando a equipe de link na montagem do equipamento. Eu tentava um sinal a qualquer custo para confirmar se o entrevistado já estava chegando no ponto combinado. Caminhava de um lado pra outro, igual barata tonta.

 Daí, me chamou.


- Moça, você que entende dessas coisas de jornal aí, me ajuda aqui.

- Claro, o que o senhor precisa?

- Amanhã vou dar uma entrevista ao vivo e "tô" muito preocupado. Eles não me disseram o que eles vão perguntar, daí não sei o que responder, fico nervoso, nem dormi direito essa noite pensando nisso. 

- Ah, muito simples. Vou te ajudar! Primeiro o senhor tem que se acalmar. E antes da entrevista, a jornalista com certeza vai fazer uma prévia das perguntas com o senhor. 

Aí, eu dou a dica pro senhor responder grandes respostas, desenvolver, não só falar "sim" ou "não", que aí vai ficar bom. Mas qual é o tema?

- É jardim. 

Barulho de ficha caindo. Claro! Estava cercada de flores. Alguém tinha que ser o responsável pela beleza da Tecnoshow. 

- O senhor plantou esses jardins todos por aqui, não é isso? - falei empolgada.

- Sim - respondeu tímido, sorriso de lado, meio nervoso. 

- Meu Deus, como é o nome do senhor? Eu tenho que agradecer demais pelo seu trabalho. O senhor alegrou meus dias com essas flores. Tão lindas e coloridas! Não só o meu, mas de muita gente que passou aqui!

Demos uma olhada ao redor, dezenas de famílias fotografando a paisagem e o cenário. Outras descansando na sombra feita pelo pergolado. Em cada nicho de gente, poses e sorrisos. Crianças correndo. Recordo-me de uma dizer: "Eu poderia até morar aqui nessa casinha pra sempre!"

- Obrigado - disse quase num sussurro. 

Fui tomada por uma emoção enorme. Eu amo flores. Amo jardins. Quando a gente olha de um pouco mais de perto para as plantações, elas têm muito de ensinamento sobre a vida. 

O tempo não é da gente. O clima também não nos pertence. E ainda assim é com todas as dificuldades que precisamos nos colocar a campo para trabalhar. O nosso desenvolvimento humano, penso, é como a semente que germina na terra, brota, cria raízes, cresce como flor ou outra planta. Somos feitos de fases e de amadurecimento. Pensei em tudo isso em cinco segundo e falei:

- O senhor tem noção da sua importância para os visitantes da Tecnoshow? Muito obrigada de coração!

Acho que o deixei sem graça. Sorriu quieto, mais uma vez, mas continuei. Antes, peguei o caderno e a caneta e comecei a anotar. 

- Me diz o nome do senhor. Eu vou ter que escrever.

- Agora você vai fazer outra reportagem, é?

- Vou, mas é um pouco diferente. O Senhor não vai aparecer na TV não, vou mandar esse texto aqui pra internet. 

- Mas eu preciso de autorização para falar! 
- Pode deixar comigo que resolvo tudo. 
Deu certo. 

Ronaldo Manoel Silva de Jesus, 46 anos. Jardineiro da Comigo, há 10 anos. Tudo que sabe aprendeu fazendo, cuidando, cultivando, com cautela e atenção. Nem sempre teve essa profissão. "Trabalhei como serviços gerais, em granja, com suínos, já fiz de tudo!"

- O senhor prefere frango ou flor?

- Sem dúvida as flores! Quero me aposentar na flor. Eu gosto demais de mexer.

- E tem mais jardineiros que trabalham com o senhor?

- Nós somos uma equipe de quatro. E mais o paisagista, o Bira. 

Ubirajara Silva de Oliveira, engenheiro agrônomo e paisagista da Tecnoshow há cinco anos. Conta que a inspiração veio de outras feiras, de fotos que os amigos mandam de viagens. "A casinha veio de Dubai. Vimos na internet, ano passado ensaiamos e dessa vez colocamos em prática", fala. Bira e Ronaldo são uma dupla e trabalham em conjunto com outros colegas. 

Começam em janeiro. A maioria das mudas e mudas vêm de Holambra (SP) e são cultivadas no viveiro da Comigo até meados de março para depois ocuparem os hectares da feira: em torno de 110 mil plantinhas de mais de 10 espécies nos diversos jardins. Cultivadas uma a uma. Vimos as cores das vincas, torênias, orquídeas, rosas, petúnias, cravinho, sálvia, lantana, sunpatiens entre outras. 

- Quando a gente plantou, colocamos adubo na terra remexida. Depois veio o adubo foliar para que crescessem bonitas após 20 dias, e o trabalho de molhar diariamente. Quase todas, em algum momento, foram atacadas por insetos. Foi trabalhoso, mas a gente conseguiu. 
E como, seu Ronaldo. O trabalho ficou primoroso. Eram suas flores que descansavam meus olhos por poucos minutos, das horas de trabalho, das longas caminhadas e temas de difícil entendimento. Suas flores deram um toque de amor ao nosso labor apressado, com horários bem definidos, sempre muito conectado. Suas flores, olha, percebi, devem ter embelezado as redes sociais de muitos visitantes. Eu fui uma delas! Suas flores estavam mais charmosas a cada dia e combinavam direitinho com o céu azul e sol quente. Era muita explosão de cores para ficar triste. Seguiram a vivacidade da feira. 
- E o que o senhor mais gosta em seu trabalho?

- Ah, na hora de ver o resultado. Porque tudo que a gente faz, faz com vontade, faz com amor. Dizem que a cada ano aqui fica mais bonito. E olha, eu "tô" acreditando. 
Pode acreditar. Se eu ajudei o senhor a se tranquilizar para a entrevista, o senhor me lembrou das cores da vida. Tecnoshow é evento das máquinas, do crédito, das palestras, das autoridades, do produtor, dos negócios, da notícia, da economia. Mas também da beleza, da grata surpresa de que temas sérios e relevantes podem ser discutidos em meio às flores. E não só com pedras!

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