Da praia de Ferradura.


Praia de Ferradura - Búzios/RJ - Foto: Nathália Coelho
Eu já te conhecia. Já estivera aqui em sonhos, em memórias perdidas, em outras vidas, em devaneios da mente. Não sei, mas minha alma te reconheceu, e inflou feito balão quando meus olhos te fitaram. Tão logo, sentiu também o afago da areia e da água. Acabou voando com as gaivotas... Num voo de liberdade! Foi como pote de barro que sente o líquido cristalino invadir seu território, preenchendo-se, sem sobrar espaço; ao contrário, transbordando, deixando cair livremente, esparramar... 

Foi desconstrução. Era como se você conseguisse emergir o melhor de mim e o pior também. Desmantelou-me, e fez-me contraditoriamente uma obra prima. Eram as próprias mãos do Criador que me esculpiam feito argila, bem no encontro do mar com a margem. O movimento do vai e vem das ondas moldava-me da maneira que Ele queria. E a sensação era de plenitude, bem estar e felicidade genuína. Era aquele céu inteiro dentro de mim, visto de olhos fechados. Era horizonte azul enxergado pela emoção. Os ouvidos estavam rendidos ao pipilar das gaivotas, que davam rasantes nas margens brincando de ser criança.

Enquanto o mar limpava o interior, também dava-me um banho de sal, impregnando em minha pele toda a textura oleosa da água meio esverdeada. Os grãos de areia mais grossos que o normal, invadiam o pouco da roupa que me restava e grudavam em meu corpo. Sujeira ao olhar maculado do humano... Incômodo superficial. A tarefa de vida de conviver com o diferente, mesmo que por um instante... Tudo era lição. Então, deitei onde estava. Cabelos, braços, pernas, pescoço. Tudo encheu-se de areia.  E pude te sentir, praia natureza, em mim, de pupilas abertas para o interior. Sorriso escorreu pela boca, e aos poucos a cena ficou branda, branca, tons de sol, tons de céu. 

Em seguida, caminhei. Caminhamos.  De mãos dadas. Eu e você, praia de Ferradura.



Comentários

Postagens mais visitadas