Sobre príncipes e princesas.
(Nathália Coelho)
Príncipe só em monarquia. Por isso, não tente encontrar um desses para relacionamentos em repúblicas. Pelo contrário, é melhor nem começar a procurar. Primeiro, dá muito trabalho. E se ele for como o Príncipe William da Inglaterra, provavelmente você nem vai conseguir ultrapassar a barreira de segurança. Se for tentar um relacionamento via internet, piorou a situação. Com certeza ele terá uns cinco perfis lotados, uma página abarrotada de curtidas e uma equipe de social medias para monitorar as contas dele. Ou seja, se você mandar uma mensagem, de longe é o príncipe o autor da resposta. Você pode até enviar um email para começar uma conversa informal, mas tenha em mente: é a caixa do príncipe. Pelo menos 300 mensagens novas chegam todos os dias. Se para pessoas normais esse é o número de spams...
Vamos para o segundo argumento. Príncipes tem uma reputação a zelar. São como celebridades. E, embora possam dar ataques de individualismo em público, como o irmão do William, sempre se sentirão pressionados a seguir um padrão imposto pelo título de nobreza. Terão que fazer a corte, frequentar compromissos oficiais, fingir felicidade para os súditos e também para os coleguinhas da alta sociedade, esbanjando e ostentando sua condição refinada. Será que você vai aguentar viver assim a vida toda? Olha, chega um momento que o psicológico explode e o vazio vai sufocar...
Terceiro. Sua vida vai virar um inferno. Vai ser perseguida por paparazzi e pode até capotar o veículo em Paris. (risos). A parte boa é que é em Paris, mas vai lá... o que adianta se sua vida for pro beleleu?
Quarto. Um príncipe pode ter quem ele quiser nas mãos. Tem certeza que você realmente vai ter saco para aguentar tanta concorrência!? Ciúmes pode acontecer. Afinal, se ele for dos príncipes tradicionais, totalmente dotados de beleza, todas as menininhas vão pirar e suspirar, querer atacá-lo ao vivo e na internet, e a todo momento seu whatsapp vai apitar avisando que a prima do fulano de siclano falou isso do seu amor...
Quinto. Se o príncipe que procura é o dos contos de fada, tadinha! Não se usa cavalo hoje em dia. Nem roupas brancas, nem se prendem princesas e mocinhas indefesas em calabouços, e as bruxas não distribuem mais maçãs, nem possuem rocas para espetar o dedinho lânguido. Os castelos ficaram nas páginas encantadas também. O rei não vai dar um baile, nem a madrinha vai aparecer com o sapatinho de cristal e uma abóbora nunca na vida vai se transformar em carruagem. Olha, nem vou falar sobre o “felizes para sempre”, porque aqui cabe uma dissertação de mestrado...
Sexto. Cansou!? Eu também cansei desse papo de príncipe e princesa. Houve um tempo em que os meus olhos românticos vislumbravam um relacionamento permeado pelo encantamento de um casal magicamente transformado pelo pó de pirlimpimpim do amor. E ele era idelizado, e eu, sem olhos para enxergar meus defeitos. Seriam tão feitos um para o outro que estaria instaurada uma atmosfera antissofrimento na relação. E nada daria errado e tudo seria certo. E ambos seriam puros, e estaria proibido em decreto causar qualquer tipo de mágoa e dor no outro. Afinal, o casal beirava à perfeição. Não. Não... Armaria, nãããããn!
Ainda bem que a vida veio e mostrou, por meio de sua estrada, que o mais interessante dela consiste em ultrapassar as pedras. O devir. A essência do viver está no mistério do amanhã. De não ter as rédeas dos acontecimentos. De fazer planos e Deus vir e, em segundos, mudar todos eles e você ter de se adaptar à nova realidade... O interessante da vida está na eterna transformação do ser humano. Das portas que deixamos abrir em nossas vidas. Das janelas que fecham sem que estivéssemos preparados. Do chão que desmorona e você se reconstroi aos poucos... Isso é viver. É entender que alegrias estão para tristezas, assim como nós estamos para as mudanças, e que no meio dessa equação a felicidade deve vir em equilíbrio. Nessa vida normal e real, não cabem príncipes e princesas.
Acho que ando aos poucos me livrando da ideia dos relacionamentos monárquicos mais lindos do mundo. Pelo menos os que já foram, estão hoje, anos depois, me fazendo desconstruir conceitos. Foram para sempre. Mostraram que o mais legal é estar junto de pessoas normais e que decidiram por viver. De verdade. Afinal, pessoas normais ficam, namoram e se casam com outras pessoas normais, ou seja, passíveis de erros e acertos, momentos de alegria e de dor. São aquelas que transitam entre o mais nojento dos momentos aos mais sublimes e bonitos e não se sentem envergonhadas e nem pressionadas a serem quem não são. Pessoas normais mentem (umas mais outras menos; aí vai do seu olhar clínico em identificar), vivem, tem anseios e desejos, são o que são, independente de suas expectativas. São reais. Pegam ônibus. Encaram mais de dois empregos. Estudam se gostam. Se conseguem comprar um carro dividem em trocentas vezes, igual a você, se nasceu de classe média baixa para baixo. Tem dívidas e dúvidas. Confusões mentais. Gostam de sair ou não. Pertencem a várias religiões. E se fecham em uma se quiser. Ou se abrem a experiências novas. Tanto faz. Isso são só detalhes do viver. Detalhes que não deveriam pesar tanto nas relações pós-modernas enfeitadas de supérfulos e superficialidades.
O melhor de tudo é entender, em algum momento da vida, namorando ou estando solteira, que o destino vai te fazer encontrar vários "alguéns" com quem você pode ou não querer estar perto, junto. Pode ser que tenha AQUELE, ou não... Não importa. O ponto chave está aí. No querer. E quando alguém decide por querer, ele deu o primeiro passo para dar certo. Talvez quem entenda também que não dá para encarar a vida com a ingenuidade de um eterno carnaval de coisas boas esteja pronto para enfrentar qualquer tipo de dificuldade que surgir no caminho. E tenho pra mim: quem compreende isso, começou a tomar as rédeas de si mesmo, e consegue se manusear dentro desse mundo cheio de oportunidades furadas. Consegue também ser tão inteiro que pode se doar ao outro, querendo, de fato, indo além da porta de entrada. E é uma sorte encontrar uma pessoa dessa. Talvez destino. Quem sabe. O importante é viver, sem se preocupar tanto em estar a dois. Um dia, esse dois aparece, sem nem perceber. Afinal, nada matura na ansiedade. Somente nas esperas. Então, se em pleno século XXI, você ainda quer encontrar um príncipe e se sente uma princesa, por favor, acho melhor mudar de planeta. Ou voltar no tempo, reavaliar sua árvore genealógica...
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