O conto dos 60 anos

João e Maria Coelho, há 60 anos.

Era uma vez a história de uma jovem moça de Monte Carmelo que se casou aos 16 anos com o apessoado moço da mesma cidade, que tinha 19, há sessenta anos. Ela, bonita, caçula de uma família de oito irmãos, chama Maria, assim como a mãe de nosso Senhor. Ele, rapaz de posses e mesmo tão novo dono de terras mineiras, chama João, assim como o primo de Jesus. João e Maria. Não saíram do conto de fadas recheado de casa de doces, bruxas e florestas. Mas eram João e Maria, um casal, enlaçado pela lei de Deus e pela lei dos homens, no pacato interior sul mineiro, numa época em que casar era uma instituição valorizada e respeitada. Fazer família era coisa séria, e também feliz, por assim dizer. 

De João e Maria nasceram os sobrenomes Coelho de Sousa, de Sousa Coelho, só Coelho ou Rezende. Variava e dependia. Todos foram distribuídos pelas oito crianças nascidas da luz de Maria: Junice, Juscélia, Jussara, Jussana, Juliana, Sebastião César, Sandro Roberto e Jaqueline, a mais novinha. Os sete primeiros vindos das mãos da mamãe de Maria, vovó Corina, a parteira mais requisitada da região. Cada nascimento, uma história para contar. 

No início da vida juntos, João deu passos precipitados e a herança dos Coelho se esvaiu mais rápido do que se esperava. A vida boa continuou boa, mas agora tendo de ser conquistada dia após dia. João, que não era burro nem nada, sabia o valor do trabalho. E reaprendeu rapidamente a arte e ofício de ser sapateiro. Virou o melhor por onde passava. Não deixou faltar o pão nem a dignidade em seu lar. Todos os filhos tiveram a oportunidade de ter em suas mãos livros, cadernos e lápis. Já Maria, filha humilde e obediente, aprendeu com maestria os serviços de casa. Na cozinha, era artista. Junto à irmã Luzia, fez quitutes até para os presidentes da recente Brasília. O amor de Maria viajava ao sabor dos temperos mineiros trazidos pelo vapor vindo da panela, e batia forte no coração de cada um.

Ao longo dos anos, moraram em Monte Carmelo, São Felix, Catalão, Chapada, Araguari, Goianésia, Goiatuba, Formosa de Goiás, Brasília. Nas últimas duas cidades, vieram os casamentos dos filhos e os netos, que hoje são 14, além dos 5 bisnetos. Pela estrada da vida caminharam João e Maria, agregando a cada passo aprendizados oriundos da plenitude do viver. Pedras, problemas, sofrimentos, alegrias e tristezas, saúde e doença, fracassos e sucessos, como prescreve qualquer caminhada. Sobretudo e contudo, amor para viver em profundidade. Qual o segredo? Silêncio, resignação e fé. Sabedoria vinda do próprio Deus. João e Maria souberam transmitir seu legado porque souberam, acima de tudo, deixar a sementinha do bem plantada no coração dos seus. Por isso, são hoje exemplos de pais, avós, irmãos, tios, sobrinhos, amigos. São um casal, até hoje, graças a Deus. 

E nós, família Coelho, oriundos dessas raízes fortes e profundas, só temos a agradecer e amar a cada um desses dois da forma mais bela possível. Temos o sopro de vida pois vocês um dia, há 60 anos, disseram "sim", como Maria ao anjo, a uma vida que vos esperava. Hoje, as marcas do tempo carregam consigo lembranças e recordações da juventude. As limitações do envelhecer marejam os olhos mas também orgulham. Os problemas da idade serão superados, como sempre foram. Temos união, amor e Deus. E que seja a vontade de Dele!

Amamos, amamos, amamos, amamos o senhor e a senhora!
Vovô João, dos apelidos trocando as letras, das notinhas de um real, da sapataria do mestre.
Vovó Maria, das vasilhas de pão de queijo, das festinhas e terços de aniversário, das mensagens lidas ao telefone, do amor puro visto nas pupilas dos olhos e dos cabelos brancos como a neve.

Viva os 60 anos!

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