O dia em que o bandido apanhou de uma mulher

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    Ela entrou no ônibus com passos firmes, ajeitando o cabelo e com um ar sério e ao mesmo tempo de revolta na face. Deu a bolsa preta para a mãe, que sentou no último lugar vazio do coletivo. Ela ficou de pé. Cabelos curtos amarrados em rabo de cavalo, óculos de sol usado como tiara. Calças pretas e uma blusa vermelha de costas nuas. Uma sapatilha de saltinho. Tinha um olhar de vitoriosa, melhor, mulher vitoriosa.
    - Mãe, me dá esse celular aí.
    - Toma, filha. 
    A moça pegou o aparelho e ligou resmungando.
    - O danado ainda desligou. Sacana. Devia ter apanhado mais.
   Uma outra senhora que estava sentada entre mãe e filha não aguentou de curiosidade e questionou:
    - Você foi roubada?
    - Quase. Porque eu dei um coro no bandidinho e ele me devolveu o cartão de passe e meu celular.
   - Moleque assim deveria morrer!! Eu sou crente, mas nessas horas sou a favor de polícia que mata marginal. - disse a mãe, num largo sorriso.
   - Foi assim - continuou a moça - Entramos no ônibus e um menino, devia ter seus 15 anos, entrou atrás da gente. Vi que ele estava encostando demais em mim e pensei, 'esse menino tá querendo alguma coisa.' Dito e feito. Só foi eu virar e ele sair correndo do coletivo. Passei a bolsa pra minha mãe, bati na porta pro motorista abrir o ônibus e saí correndo atrás dele.
  - Caramba, não ficou com medo não? - indagou a ouvinte que nada a ver tinha com a história.
   - Eu? - riso. - Nada! Uma amiga minha é atiradora de Elite e me ensinou a arte da defesa pessoal. Fui mesmo. Aí, encontrei ele atrás da banca de revista tentando se esconder com uma blusa de frio. Eu disse, 'devolve meu celular agora, rapaz. Anda, devolve!' 
      No rosto da ouvinte, espanto. No da mãe, orgulho.
   - Então ele devolveu. Forcei um pouco mais para me dar o cartão da Fácil. Também me deu. Foi aí que ele ganhou um soco na nuca. Saí caminhando e ele correndo.
   - Tem que se defender mesmo. Moleque safado, merece a morte. Já disse, sou crente, mas nesses casos não acredito na recuperação.- falou a mãe.
   - É moça, você teve sorte. Vai que ele estava armado.
  - Nada! Tem que olhar no olho dele e intimidar. Mostrar que você também pode causar pânico nele. Nessas horas a mulher tem que ser macho mesmo, sem perder a feminilidade. Eu sei a hora de ser sensível, educada, elegante. Mas não perco a oportunidade de mostrar minha fortaleza diante da vida. Não sou enganada. Nunca fui. Fui criada no meio de homem. Não é, mãe?
  - Sim! - largo sorriso.
  - Tenho dois irmãos e meu pai dentro de casa. Sou sozinha. Bandido comigo leva peia. Mas menino!


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