Humana lama
Brumadinho/MG - Imagens G1
Por Nathália Coelho
A lama é verde
e nasce em cédulas.
A lama é tóxica
de cifrões.
A lama se alimenta
do orgulho
da petulância
da vaidade
e também da ignorância
de quem vive em vão
(e em prol)
das tramas tão superficiais da vida.
A lama se acumula no vazio
das mentes ocas
dos corações alheios
dos corpos negligentes
e que - histéricos - gritam e almejam
devorar rios de dinheiro
(e poder.) A lama é silenciosa
embora sabe-se rejeito,
Rejeito! E tudo bem.
Escondo, aterro, faço barreira
em mim mesmo, e tá ok.
Ninguém vê
o que não mostro.
Ninguém enxerga
o que no fundo, bem no fundo se acumula.
Ninguém liga,
self - ninguém.
Até que um dia
de tanto "rejeito!"
o muro se rompe
e escorre
desandando tudo aqui.
O meu EU se evidencia:
podre / venenoso / inescrupuloso
em excremento
purulento
auto-asfixiado
amputado e amputando
o que ainda restava em amor
e restava?
Lá se vão meu vales.
Lá se vão minhas árvores.
Lá se vai meu próprio ambiente.
Lá se vão as moradas e moradores de mim.
Tentei brincar de ser deus.
tentei virar o próprio universo.
mas descobri, nessa empáfia,
um retrocesso:
sou pedra humana
ou humana lama
prestes a me implodir.
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