O lançamento do meu primeiro livro

Foto: Myrcia Hessen - Livraria Cultura - Brasília / DF

Lançamento do meu livro Mosaico Mineiro: Crônicas sobre a Folia de Reis e Monte Carmelo

No dia seguinte, eu só conseguia chorar. Estava transbordando e não sabia. Era como se minha alma precisasse extravasar toda a emoção vivida na noite anterior, de forma tão inteira, completa, plena. Tão cheia de Deus. Havia vivido um sonho. Ou sonhava que estava vivendo. Nem sei. Não precisamos saber de tudo o tempo todo. Na verdade, nem se quiséssemos conseguiríamos. Ali, era o momento de sentir. Fluir. Até flutuar. Meu coração já começou a dar solavancos quando estacionei o carro no shopping, peguei a cesta com as lembrancinhas e subi para a Livraria. O passo, curiosamente, estava em consonância com as batidas no meu peito. Cheguei, encontrei um amigo que veio me ajudar na organização e entramos.

A sensação, do começo ao fim, era de anestesia. Talvez Deus tenha trabalhado uma serenidade dentro de mim imprescindível para não explodir, não desmaiar, não dar um infarto, não ir da linha da felicidade para a tragédia. Meus olhos marejados de lágrimas internas só conseguiam brilhar com as coisas que via, com as pessoas que encontrava, com os abraços e carinhos recebidos de tantos contextos de minha vida. Eu era só eu. E nada mais. E aquilo tudo estava acontecendo ao meu redor. Merecia tanto, Pai? Estava constrangida. Era muito amor materializado. Em fagulhas. Alegria significada e compartilhada com quem nos quer bem.

Eu só conseguia enxergar sorrisos, com as bocas e com os olhos. De todos os lados. E as pessoas estavam sorrindo, imagino eu, por me ver ali, alcançando um objetivo que nasceu sem contornos definidos, tímido, inseguro, mas feito com boas intenções. Talvez a beleza daquela noite estivesse também no processo que vivi até ali. Era o presente junto das reminiscências de minha vida, que como em um bailado, se misturavam, fundiam. Era, de fato, uma vitória. Modesta. Pequena, iniciante, sem o reboliço das grandezas da sociedade, mas era uma vitória. Uma superação de si mesmo.

Minha alma era sexta e sábado. Feriado. Férias. Era mar e areia, crepúsculo, fim de tarde, era a emoção de uma criança, era o aconchego de um abraço firme, era linha do horizonte, era rio a correr, cachoeira, barulho das ondas e cheiro de terra molhada. Era chuva depois da seca. Era Brasília e seus ipês coloridos. Era foto antiga única e amarelada pelo tempo. Era manhã que se levanta, era céu azul, era amizade verdadeira, era carinho de pais, era aeroporto, sensação boa de viajar. Era o retorno pra casa. Era ligação para matar a saudade, era beijo apaixonado, era romance, era descontração em uma mesa de bar, era show de cantor preferido, eram palavras doces e amenas, era a paz de um templo religioso. Era a sensação de término de um livro, uma música ouvida repetidas vezes no trânsito. Era brincadeira entre e pai e filha, olhares entre mãe e filha. Era o amor de irmãos. Era a respiração tranquila. O velar do sono de um bebê. Era uma mensagem de texto feliz. Um carinha com dois corações do whatsapp. Um grito de alegria por novidades. A conquista de um emprego. A notícia de nascimento. Fogueira de São João. Festa do interior. Só interior. Benção de vô e vó. Gosto de comida feita em casa. Pão de queijo e café. Encontro com Deus. Encontro profundo com as vontades de Deus. Sintonia com o universo. Minha alma havia descoberto entrelinhas. Atingido, por poucas horas, o intangível da vida. Minha alma era tudo isso e misturado. Batido em liquidificador. Como eu consegui carregar esse sofrimento de alegria, não sei!                 

Eis aí a plenitude!

Morrer de amor e continuar vivendo! 

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