Fel

É quando a vida desce seca que a garganta fecha.
Engasga. Arde e fere. 
É quando crua e nua, a vida parece muro só no reboco. 
Faltou o primor. 
Se ausentou a esperança. 
Calou-se a leveza de ser. 
É a dança das bigornas. 
Vence quem tem o ombro mais potente para carregar o peso da cruz. 
A cruz. 
É quando o foco recai só na cruz 
e nada mais que o mundo (des)pinta em cinza. 
E a raiva macula o coração. 
Com...o a dor de um estilete afiado contra a pele. 
No cenário preto e branco, o vermelho do sangue que escorre torna-se torpor da solidão de Deus. 
O mundo é deserto e só. 
E dobra o peso da cruz quando há negação da estrada. 
A visão não vê. 
Os pés vacilam. 
Os olhos vibram indignação. 
Reticências. 
É preciso ser reticente, então. 
Para que, na desordem da alma, sobretudo, se enxerga a luz. 
E as coisas começam a se abrir novamente ao que colore e clareia. 
É o movimento cíclico do estar imbuído/significado/envolvido/integrado humanamente falando no ser e estar no mundo. A eterna contradição dos sentimentos do caldeirão interior. 
Que Deus nos ajude.

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